20 de out. de 2016

Ramon Bocker: Percy Jackson

Percy Jackson

Ao lado de um barco capenga, quase caindo aos pedaços, resultado de ataques de fúria que outrora pessoas indignadas pelo seu destino foram capazes de fazer apenas com suas unhas e dentes, encostado na parte mais estável do barco se encontrava o diabo, era facilmente notável seu estado de impaciência, visível pelos seus resmungos e passos nervosos nas proximidades do barco. Encontrava-se estressado devido à longa demora do próximo sujeito, que estava mais de meia hora atrasado, e este estresse não era por menos, normalmente essa transição levaria alguns minutos, o que daria um breve instante para que ele comece alguma coisa e assistisse um pouco da tortura de algum sujeito mal disciplinado, o que seria a única diversão que o coitado teria ao dia. 
Com impaciência o diabo se deslocou do barco até o local onde normalmente as pessoas iam parar após a morte, o qual recebia o carinhoso apelido de lamaçal dos desesperados, mas não conseguia compreender, normalmente as pessoas teriam se arrastado daquela penumbra imediatamente, em busca de respostas sobre o que lhes ocorrera e qual o destino que os aguardava. Curioso, se aproximou do local onde se encontrava o sujeito, pode notar que se tratava de um garoto de aproximadamente dezesseis anos, visivelmente abatido e esfomeado, também, essas transições de pós vida demoravam horas. 
   O garoto estava extremamente concentrado em tocar em uma poça d'água que se encontrava em baixo dele, tanto que nem mesmo fora capaz de ouvir a aproximação do rabugento diabo que agora estava a poucos centímetros do garoto e podia ouvir que curiosamente este reclamava avidamente com a poça.
- Mas que diabos está acontecendo?
- Por que sempre eu? Quem dera tivesse tempo para atrapalhar mortais imbecis, aceites teus próprios problemas garoto.
O sujeito só então notou a presença do rabugento diabo, que se encontrava praticamente ao seu lado, olhou em direção a criatura e se espantou com o que encontrou ali, e em uma reação de pânico se afundou mais na lama e soltou um berro nada sutil, que ecoou pelas paredes da caverna mesmo após algum tempo, em que ambos passaram a analisar um ao outro tentando decidir o quão desprezível era o indivíduo em sua frente. Com um movimento rápido e repentino o diabo deu um grito, e o garoto  afundou mais alguns centímetros na lama e soltou outro grito estridente, ação a qual fez o fez corar fortemente, mas como se para resgatar o pouco orgulho que ainda lhe restava ele se levantou daquele lamaçal e estufou o peito em um movimento de afronta corajosa.
- Se apresse que o barco já está prestes a sair! – Disse o diabo praticamente ignorando a atitude de rebeldia do garoto.
- Desculpa aí, pessoa errada, estou esperando outro Deus. 
O diabo vira a cabeça ao teto da caverna e resmunga algo relacionado ao fato de que o todo poderoso lá em cima normalmente ficava com os doidos de pedra.
- Olha, chega de papo furado.
O diabo segurou no braço do garoto e preparou-se para arrasta-lo, porém em um gesto extremamente habilidoso este conseguira se desvencilhar das garras que o prendia.
-Mas que Hades... Deixe-me adivinhar, deus menor? Filho de Hefesto se me permite adivinhar.
-É notória sua habilidade em deduzir garoto - respondeu o diabo sarcasticamente.
            -O calor de tuas mãos lhe entregaram, mas falando sério, espero que minhas reservas para os campos Elísios tenham sido feitas, não lutei por anos a favor dos deuses para ser apenas mais uma alma vagando pelo Tártaro. E aviso que se essa viagem forre-me agradável vou pessoalmente falar com Hades para que lhe de alguma promoção.
            O Diabo já cansado daquela palhaçada explica a real situação do sujeito, que nega veemente as palavras do diabo, e afirma ser filho de um deus da água qualquer da mitologia grega. Então para explicar a veracidade de suas palavras, o diabo faz com que apareça toda a ficha do garoto apenas com um estalo de dedo e passa a lê-la:
            -Percy Jackson, 17 anos, filho de Sally Jackson e Arthur Chase, a família fazia parte de uma comunidade onde os deuses pagãos gregos eram a base de sua religiosidade. Durante a infância cometeu diversos delitos de baixo peso, principalmente no quesito da gula e da preguiça, aos 14 anos foi levado a uma viagem de barco com seu pai e sofreu um traumatismo craniano com a batida do barco em um iceberg, desde então vem sendo mantido vivo por meio de máquinas respiratórias, que o mantearam em estado vegetativo durante três anos, tempo o qual este passou perpetuando sua adoração a deuses pagãos.
Percy atento a todas as palavras ditas pelo diabo ficou alguns minutos tentando digerir a notícia recebida, enquanto o seu companheiro explodia na gargalhada. 
- Podemos ir andando agora caro filho do Aquaman? 
E explodindo em gargalhadas o sádico conduziu o garoto abalado até a penumbra a alguns metros da onde se encontrava, o posicionou em seu assento e conduziu o barco, realizando diversas piadinhas pelo caminho, incluindo a possibilidade de jogar o garoto do barco para que ele fosse nadando.

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