20 de out. de 2016

Carolina Smania: Danilo Gentili

Danilo Gentili

Sim. Ele estava mais perdido que cego em tiroteio.
Um homem de aproximadamente dois metros de altura, se não mais, demonstrava
aflição em seus passos vagarosos. Sua face se contraía ao passo em que compreendia
que a vida mundana havia chegado ao fim. O riso que antes morava em seu rosto, lá não
se encontrava mais. Decepção pura.

DIABO

Acho que o senhor está me procurando...
Danilo virou-se rapidamente, em busca da voz que possivelmente se referia a ele. O
olhar demonstrava concordância, mas nem por isso determinava satisfação.

DANILO GENTILI

Um sorriso em seu rosto compraria uma passagem para o paraíso?
O Diabo riu sarcasticamente manifestando o quanto a felicidade do homem era
irrelevante para ele.

DIABO

Você acha mesmo que eu me importo com o seu contentamento?
Riu novamente.

DIABO

Aparentemente você gosta de fazer piadas.
Danilo respirou profundamente, lembrando-se do passado, que agora se encontrava a
uma distância inatingível.

DANILO GENTILI

Quanto terei de te pagar? Eu sou rico. Minhas piadas me trouxeram o paraíso, e agora só
preciso dele de volta.

DIABO

Meu querido, eu conheço seu passado tão bem quanto o seu futuro em minha barca.
Poderia fazer piadas com a sua mãe, mas é uma pena que você não vá reencontrá-la.
Danilo bufou mexendo o corpo desengonçado. Aquilo o havia atingido profundamente,
mas ele não poderia fazer nada. Sabia de suas escolhas. Sabia de seus pecados.
Conhecia o seu destino.

DIABO

Parece que o jogo virou, não é mesmo?
O homem praticamente ignorou o Diabo, o que consequentemente acarretaria em
problemas.

DIABO

Entre logo na barca!
O Diabo gritou com todas as suas forças, já puxando Danilo pelo braço.

DANILO GENTILI

Solte-me!
Danilo se remexeu até que o Diabo não tivesse mais controle sobre seu corpo. O último
movimento do Diabo havia resultado em uma marca que o acompanharia para sempre,
apesar da expressão “para sempre” parecer inutilizável na situação em que ele se
encontrava.

DIABO

Você tem poucos segundos. Ou você entra nessa porcaria de barca, ou eu mesmo te
forço a entrar.
Danilo não se sentiu ameaçado. Sua capacidade de aceitação realmente era pequena. Até
porque, ninguém nunca escapou de suas piadas. Mulheres. Homens. Cegos. Gordos.
Miseráveis. Sofridos. Danilo não tinha um filtro. Mas agora sim. Seus sonhos seriam
filtrados, e finalmente ele seria servo de quem a vida toda serviu, mas nunca admitiu.

DANILO GENTILI

Eu me recuso a entrar nisso que você chama de barca!

Danilo gritou e tentou correr, mas foi apanhado pelos braços do Diabo, movimento que
sem dúvidas representou o poder possuído pela criatura. Ele foi agressivamente
empurrado para o fundo da barca, onde seria mandado para o inferno. Os habitantes do
local comemoravam, pois agora, queimariam no fogo do inferno rindo. Rindo do humor
negro, que nunca sairia dos lábios de Danilo Gentili.

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